28.12.06

Na corda bamba da economia


Muitos de nós espanta-se com os gastos exagerados das pessoas nesta época de natal.

Mas o x da questão, nesta onda desenfreada de hiperconsumismo pela sociedade, é capaz de ser mais complexo. E a questão legítima que se deve colocar é como chegamos até aqui? Ao mundo da individualização hiperconsumista em que as identidades pessoais e culturais se geram, adquirindo bens e mais bens.

Aqui temos de recorrer à teoria sociológica que explica esta dinâmica catastrófica - para o indivíduo e para toda a sociedade - e referir que tal mudança é estimulada por um trio de forças: a tecnologia, as instituições e os valores. Descodificando: as ferramentas, as regras e os valores. E é aqui que nos encontramos, escravos de todas estas forças, para o melhor e para o pior. E infelizmente tenho percebido que estamos ficando com o pior.

Daqui resulta já uma 1ª conclusão: é aquele trio de forças (tecnologia, instituições e valores) que nos formata a mente, e não o inverso, o que é perigoso. E assim resulta o abismo, a vertigem, a voracidade. É como se fossemos comidos, devorados pelos braços armados da tecnologia, pelo dinheiro, pelo brilho daqueles cristais e, ainda por cima, oferecendo um sorriso de cumplicidade, sinalizando que esse capitalismo mais que selvagem pode continuar o massacre neste jogo de morte consentida.

Isso é muito estranho na medida em que hoje o Homem no mundo pós-industrializado é livre, já conquistou as tais ferramentas que lhe permitem controlar a Natureza, e viver as suas vidas independentemente dos caprichos do clima ou do ambiente - que também têm ajudado a estragar. Ou seja, vivemos numa fase em que é o Homem quem tem os comandos do processo de desenvolvimento, com as engenharias e as biotecnologias a ajudarem nesse comando global do mundo. Mas volto a dizer: quem parece estar no controle disso tudo não é o homem e sim o tal trio de forças. E assim as estatísticas fazem de nós, brasileiros, os mais gastadores (e pobres) entre os países em desenvolvimento. O que em si já é um paradoxo. Aqui se compra colares de diamantes por milhões de dólares e ao mesmo tempo morre-se de fome na maior cidade brasileira!

Bem sabemos que a tecnologia empurra-nos para esse colete de forças, e de forma inconsciente obriga-nos a consumir. É o capitalismo de mercado na sua máxima expressão, nunca pede licença para nos arrombar o cofre dos neurônios e tocar nos botões que nos dá as ordens de compra, mesmo tratando-se de bens secundários.

Em vez de ficarmos prisioneiros desta armadilha da tecnologia, das instituições (da publicidade) e dos valores consumistas que aquele trio nos incute - não seria melhor assumir de vez o controle por nossas atitudes e vontades independente do que possam pensar as outras pessoas? Creio que o progresso jamais deve ser encarado de forma mecânica e determinista, somos sempre nós que devemos controlar o processo de aquisição, e não o inverso como lamentavelmente hoje acontece. E o resultado está aí para todos verem. É o próprio progresso tecnológico que nos "ajuda" a afundar enquanto pessoas e enquanto agentes econômicos. Assim, ficamos sem cérebro e também mais pobres. E sem o direito de pensar e sem o dinheiro só nos resta fazer uma coisa: nos dirigir aos bancos e pedir mais dinheiro emprestado para pagar o que compramos de véspera.

O que só parece beneficiar os banqueiros - que riem à toa. Não é isto admirável neste nosso mundo!!!



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