De acordo com pesquisa quantitativa e qualitativa desenvolvida no OEI, os jovens são vistos como atores sem identidade própria, criminalizados e avaliados por uma visão dualista e maniqueísta. "Eles são ou responsáveis, ou irresponsáveis. São o futuro ou o irrelevante. Os esforçados e os preguiçosos. Em suma, são compreendidos como um rito de passagem. Ser jovem é não ser mais criança e não ter autonomia financeira para ser um adulto. Eles não têm espaço presente para existir, são pré-adultos", explicou a pesquisadora.
Abramovay observou que a juventude é vista como uma massa uniforme, na qual não há individualidade e espaço para ser diferente. Negros e brancos, homens e mulheres, classes sociais distintas são todos emaranhados na criação das políticas públicas e ações de estado.
"Embora todos os jovens tenham muitos pontos em comum, não é possível observarmos que não existem diferenças discrepantes na construção do tecido social brasileiro. Diferenças que devem ser vistas e respeitadas pelos governos e entidades. O jovem que mora no Jardim Ângela (bairro paulistano que já foi considerado o mais violento do mundo) não tem a mesma vida e as mesmas características de juventude que aquele que mora em Higienópolis (bairro nobre da cidade de São Paulo)", explicou.
A mesma pesquisa aponta dados significativos para compreender o porquê dos altos índices de violência simbólica, institucional e física manifestarem-se tão significativamente na faixa dos 15 a 29 anos. Mais da metade deles cursou somente até a 4ª ou 8ª série do ensino fundamental, cerca de 18% não estudam e um total de 506.669 mil jovens pararam de estudar antes de completarem 10 anos.
Para a pesquisadora, a globalização cultural e o mercado das relações capitalistas são pontos centrais para a discussão da violência. Os jovens de baixa escolaridade e com pouquíssimas chances de mobilidade social também são vítimas da oferta globalizada de consumo e poder. "O tráfico torna-se um claro espaço de inserção. O jovem busca identidade grupal e busca algo que possa lhe dar retorno financeiro para que ele possa comprar a blusa, a calça e o tênis da moda. Ele é tão vítima dessa indústria quanto o jovem de classes mais altas que podem pagar pelo consumo desses bens e da própria droga que também consomem," apontou.
De acordo com o trabalho de Abramovay, os principais desafios para os governos e entidades hoje é compreender que vive-se em calamidade social. E, para saldar esses danos, é preciso ouvir o que eles pedem. "Os pontos foram muito claros. Há imensa dificuldade de acesso à educação, pouquíssimo estímulo para que eles permaneçam na escola, o modelo educacional é classista e de baixíssima qualidade, impedindo que ele tenha, minimamente, as ferramentas de competir no mercado formal de trabalho. Além da própria falta de empregos e de espaços culturais, esportivos e de lazer," observou.
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