15.12.06

Segregação dos jovens pobres no Brasil


O professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, Rubens Adorno, fez severas críticas à forma como são tratados os jovens pobres no Brasil: “As políticas públicas para a juventude no Brasil estão a favor da desigualdade social e da divisão de classes. As novas políticas têm nos feito engolir que o jovem deve permanecer o dia inteiro na escola ou o dia inteiro em seu bairro, como uma forma clara de confiná-lo longe dos espaços centrais da cidade".

Segundo Adorno, o que se pretende ao criar políticas educacionais que mantêm os alunos na escola o dia todo e aos finais de semana, é simplesmente tirar o jovem de circulação da cidade para mantê-lo segregado na periferia. Para ele, essas políticas impedem que o cidadão percorra outros espaços públicos além da escola.

Maria do Carmo de Menezes, socióloga e ex-diretora do Serviço de Segurança e Prevenção da Criminalidade na prefeitura de Champigny-sur-Marne (França), mostrou aos participantes do Seminário “Juventude, Violências e Políticas Neoliberais”que na França isso já acontece. As periferias são completamente distantes dos grandes centros e, embora os espaços sejam bem mais humanos e esteticamente mais agradáveis do que as favelas do Brasil, a violência e a exclusão social são presentes da mesma forma. "A estratégia de colocá-los em um espaço afastado da cidade foi completamente eficiente no sentido de segregá-los ainda mais e aumentar a revolta e a violência", conta.

Para Maria do Carmo, o que gerou mais violência na França foi o modelo de moradias populares, pois este foi marcado pelas diferenças sociais, étnicas e culturais.

Adorno afirma que as políticas sociais em todo o mundo são voltadas para essa realidade e são perversas porque fazem com que a população acredite que isso é o melhor para ela. "No Brasil, a população não se rebela como na França justamente por acreditarem que essa é a melhor política para eles". Ele afirma, no entanto, que os jovens se sentem discriminados e envergonhados por viverem nessas regiões. "Isso acaba sendo um agravante a mais para que esses se tornem vitima de discriminação e violência, sobretudo violência policial", comenta.

Outra crítica feita pelo professor Adorno é em relação ao uso e ao tráfico de drogas.Segundo ele, as leis que coíbem o tráfico só permitem que ele seja mais rentável para os traficantes, já que eles acabam cobrando o que querem dos usuários.

Além disso, o palestrante afirma que a atual política, que pune gravemente o traficante e é compreensiva com o usuário, não é efetiva no combate ao crime organizado e em relação à dependência química no país. "Essa política existe para amparar os filhos da classe média, permitindo que eles possam comprar sua droga em paz, enquanto os moradores das favelas são severamente punidos quando encontrados com substâncias ilícitas, sob a justificativa de tráfico", diz.

Precisamos discutir muito a esse respeito nas escolas e a partir dessas discussões assumir uma posição, tomar um partido e é claro... fazer a diferença!

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